Mais de 15 milhões de brasileiros sofrem com doenças reumáticas
Tema é discutido no Congresso Brasileiro de Reumatologia
Depois de sofrer com muitas dores e até receber diagnóstico
incorreto, a jornalista Mariana Felipe de Oliveira, de 29 anos, finalmente
descobriu, no início deste ano, a doença que a afligia: espondilite
anquilosante. De nome estranho, a doença é um tipo de reumatismo que causa
inflamação principalmente na coluna vertebral e nas articulações sacroilíacas
(localizadas na região das nádegas).
“Eu não tive limitações graves porque eu descobri muito no
início. Quando eu comecei a sentir as dores eu fui ao ortopedista, que não me
deu o diagnóstico correto. Depois, por outro médico, eu descobri que poderia
ser uma doença autoimune por conta de uma inflamação na sacroilíaca, que é uma
articulação perto do cóccix. Ele me explicou que essa inflamação era muito
característica de um tipo de doença autoimune que é a espondilite anquilosante.
E aí sim, eu procurei uma reumatologista, fiz os exames e fui diagnosticada”,
disse à Agência Brasil, durante a realização do Encontro Nacional de
Pacientes Reumáticos, que ocorreu dentro do Congresso Brasileiro de
Reumatologia. Neste ano, o Congresso acontece em Goiânia (GO).
Como sintoma de sua doença, Mariana sente uma dor muito
forte na lombar, que costuma piorar quando ela está em repouso. “Se eu estiver
em movimento, praticamente não sinto nada, mas quando eu estou em repouso a dor
fica mais forte”, contou ela.
A doença de Mariana é apenas um dos mais de 100 tipos
existentes de doenças reumáticas, que atingem mais de 15 milhões de
brasileiros, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Reumatologia. As
doenças reumáticas acometem o aparelho locomotor, ou seja, ossos, articulações,
cartilagens, músculos, tendões e ligamentos. Algumas dessas doenças também
podem comprometer outras partes do corpo humano como rins, coração e pulmão.
“Doenças reumáticas são doenças autoimunes, aquelas
patologias em que o próprio organismo se incompatibiliza ou não reconhece suas
próprias células”, explicou Marco Antônio Araújo da Rocha Loures, presidente da
Sociedade Brasileira de Reumatologia. “Normalmente o anticorpo é para você
combater vírus, bactérias e fungos. Mas se você tem essa briga [com o próprio
organismo], você tem um processo inflamatório. Qualquer que seja o órgão,
independente dessa reação, ele tem uma lesão maior ou menor de intensidade,
conforme essa resposta”.
Entre as doenças reumáticas mais comuns estão a osteoartrite
[mais conhecida como artrose], fibromialgia, osteoporose, gota, tendinite,
bursite e artrite reumatoide. Segundo o médico Rafael Navarrete, presidente do
Congresso Brasileiro de Reumatologia, a doença reumática mais frequente é a
artrose. “Também está chegando numa incidência muito elevada a fibromialgia e
algumas doenças inflamatórias, como a lombalgia, que é a segunda causa para se
procurar médicos no mundo, só perdendo para a cefaleia”.
Segundo a médica reumatologista Camila Guimarães, presidente
da Sociedade Goiana de Reumatologia, o diagnóstico da maioria das doenças
reumatológicas é feito de maneira clínica. “A gente precisa de um bom exame
físico para que a doença seja diagnosticada. É claro que a gente conta com
exames laboratoriais, exames radiográficos mas são exames complementares. Não
existe um exame que isoladamente faça o diagnóstico das doenças
reumatológicas”.
No geral, as pessoas costumam pensar que as doenças
reumáticas só ocorrem em idosos, mas Mariana é um exemplo de que elas podem
atingir também pessoas mais jovens.
“É importante salientar que as doenças reumáticas não
acometem somente pessoas idosas, mas de qualquer faixa etária”, destacou
Navarrete.
Importância do diagnóstico precoce
Segundo o reumatologista Nilzio Antonio da Silva, as pessoas
costumam procurar o médico reumatologista só quando sentem dores. “Na maioria
das vezes, a pessoa recorre ao reumatologista com dor no aparelho locomotor, ou
seja, dor na articulação, dor muscular ou dor na coluna”, disse. Mas há outros
sintomas característicos de doenças reumáticas, como alterações na pele ou
inflamação ocular.
Há também doenças reumáticas que podem progredir de forma
silenciosa, como a osteoporose. E, se há demora no diagnóstico, o tratamento
para a doença pode ficar prejudicado. Por isso, é importante que se busque um
médico o quanto antes. “Quanto antes a gente diagnostica, antes a gente
intervém e muda a evolução da doença. Por isso, tendo algum sintoma do músculo
esquelético, é importante procurar um reumatologista”, disse o reumatologista
José Eduardo Martinez, que integra a Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras
Síndromes Dolorosas de Partes Moles da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Mariana, por exemplo, conseguiu obter um diagnóstico rápido
sobre a sua doença, o que permitiu tratamento num estágio inicial. “Eu não tive
limitações físicas, embora muitas pessoas tenham. Como o diagnóstico demora
muito, entre 8 e 10 anos - e essa é uma doença progressiva - muitas pessoas
quando descobrem já estão com estágio avançado. Mas como eu descobri no início
ainda, eu não tive nenhuma limitação física, mas eu tenho limitações de
estresse de lidar com a dor crônica, já que tudo que eu faço durante o dia,
estou sentindo dor. O cérebro está trabalhando ali e, além de te ajudar no que
você está fazendo, ele está também o tempo inteiro te lembrando que você tem
essa dor. Então é um estresse muito grande”.
“Tenho horário para comer, para ir na terapia, para ir na
fisioterapia e isso acaba prejudicando a gente um pouco nos relacionamentos. Eu
também não posso mais usar os sapatos que usava antes. Eu preciso usar um
sapato mais confortável. Não posso mais ficar muito tempo sentada, mas eu
trabalho sentada o dia inteiro. Então são essas algumas limitações que foram
colocadas no meu dia a dia que acabam me prejudicando um pouco, mas eu tenho
consciência de que, por ter sido diagnosticada cedo, não desenvolvi outras
limitações que poderiam me prejudicar [ainda mais]”, acrescentou Mariana.
De acordo com Ivanio Alves Pereira, diretor científico da
Sociedade Brasileira de Reumatologia, os tratamentos para as doenças reumáticas
disponíveis hoje podem aumentar muito a qualidade de vida do paciente.
“A gente vive hoje um momento em que alguns tratamentos
inteligentes bloqueiam o que está ocorrendo de forma anormal. E aí apareceram
uma série de oportunidades como medicamentos biológicos que tem vários alvos da
doença. Então, doenças que até há pouco tempo geravam deformidades
irreversíveis ou incapacidade definitiva como artrite reumatoide ou artrite de
outras causas como psoríase e lúpus, hoje você tem uma série de novos
tratamentos, disse acrescentando que "os pacientes com doenças reumáticas
tem a oportunidade de não só ter diagnóstico precoce, mas de ter acesso a
tratamentos hoje que são muito efetivos e que mudaram a qualidade de vida,
aumentaram a longevidade e a sobrevida desse paciente.”
E, no geral, esses tratamentos estão disponíveis no Sistema
Único de Saúde (SUS). “O tratamento da minha doença, assim como de muitas
outras doenças reumáticas, tem pelo SUS. Esse é um avanço dos últimos 20 anos”,
disse a paciente Mariana.
Sua dificuldade de tratamento, no entanto, se refere aos
tratamentos complementares como fisioterapia, RPG e acompanhamento nutricional.
“São terapias que não estão disponíveis para todo mundo, não são acessíveis
para todo mundo, infelizmente. E são muito necessárias para o controle da dor e
para o controle do stress e para a saúde mental. Não consegui nem
pelo plano de saúde”.
Nesta semana, o Congresso aprovou uma projeto de lei que
regulamenta o tratamento de fibromialgia e fadiga crônica pelo SUS. Se for
sancionado, será legalmente constituído o direito de as pessoas com essas
doenças receberem atendimento integral pelo SUS, o que incluiria tratamento
multidisciplinar nas áreas de medicina, psicologia e fisioterapia e acesso a
exames complementares e a terapias reconhecidas, entre elas fisioterapia e
atividade física. Esses atendimentos, informou a Agência Senado, já estão
previstos em portaria do Ministério da Saúde de 2012.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde ainda não se manifestou sobre os tratamentos disponíveis no SUS para as doenças reumáticas e nem sobre a dificuldade em se obter tratamentos complementares para essas doenças.
Newsletter
Cadastre seu email e receba nossos informativos e promoções de nossos parceiros.
-
08:07
Inscrições abertas para Especialização em Educação para as Relações Étnico-Raciai...
-
09:21
Museu de Indaial celebra 23ª Semana Nacional de Museus com atividades
-
15:02
Timbó participa da 23ª Semana Nacional de Museus com café musical e nova exposição
-
14:51
Timbó dá largada à Olimpíada Entre Empresas nesta sexta-feira
ROMAN RAITER - JUSTIÇA AO OASE